Hoje eu me demiti

A primeira vez que ouvi a expressão “burning bridges” (ou queimando pontes, em português) foi na Microsoft em Londres há poucos anos atrás. Ouvi do meu chefe após uma promoção. Ele me alertava que eu devia medir minhas palavras ao falar com pessoas importantes (que agora faziam parte do meu dia a dia) porque eu não queria queimar nenhuma ponte com ninguém. O sentido era então de fazer uma boa gestão dos meus stakeholders e da minha carreira para manter portas abertas, bom relacionamento, para ter boa circulação na empresa.

Corta pra semana passada (ou retrasada?) e ouvi a mesma expressão da (sempre ela <3) Eli Rigol. Mas a história era diferente… mais ou menos assim: Tinha um exército marchando em direção ao seu inimigo para batalha. Para chegarem lá, a última parte era um vale enorme, que poderia ser atravessado por uma ponte. Então, o exército inteiro atravessa a ponte e o comandante é o último a passar. E assim que passa, ele queima a ponte atrás dele. Os soldados ficam desesperados e perguntam “mas e se a gente precisar voltar?? não tem mais caminho de volta!”. O comandante responde: “Então nossa única chance é vencer a batalha”.

Eu imediatamente fui levada para 2003/2004. Recém saída do ensino médio, meu plano era fazer duas faculdades, Administração e Hotelaria. Passei no vestibular de Hotelaria e fiquei na lista de espera de Adm. Comecei o curso e ainda tinha esperança da lista rodar. Rodou, mas não chegou em mim. Daí pensei que devia trancar a faculdade de hotelaria, fazer cursinho e tentar o vestibular para Administração de novo. Quando contei meus planos pro meu pai ele disse “não vai trancar, vai largar!” (ele não gostava mesmo de toda a situação). Ainda lembro desse dia que ele me levou de carro para a escola, preenchi e entreguei o formulário de desistência do curso. Medo, incerteza, frio na barriga, questionamentos mil. Eu, soldado. Meu pai queimou aquela ponte pra mim.

Hoje, eu me demiti. Eu, comandante, decidi queimar minha própria ponte. Uma que construí com muito carinho e dedicação nos últimos o quê? 15 anos? Por aí! Tudo o que me trouxe até aqui, exatamente onde estou. Queimei.

Apesar da certeza toda, não foi uma manhã fácil. É quase como se eu estivesse fora do meu corpo vendo tudo acontecer. Incrédula. A ligação pro RH. O email em seguida oficializando. A ligação pro meu colega de trabalho que virou amigo para vida. Pro meu marido. Pra minha mãe. Acabou. Aquela Mariana funcionária exemplo, talento de uma grande corporação, assim em segundos, não existe mais.

Medo, incerteza, frio na barriga, questionamentos mil. De novo.

Do que são feitas essas novas pontes? De que forma irei construí-las? Qual o tamanho dos próximos vales? Serão pontes sobre rios de águas claras ou desertos áridos?

Não sei.

Sei que de agora em diante será sem medir palavras. Será com alma e intuição. Será com tudo de mim. Eu, inteira. Terá tudo dessa que é a minha melhor versão até hoje. Terá todo meu coração.

No curso de formação em consultoria de moda, teve um módulo (genial) sobre o medo de começar. E uma aula com título “Comece”. Eu não comecei hoje, mas hoje eu já não tenho outra escolha que não seja ganhar essa batalha.

Com amor,

Mari.

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